Já viu essa trend nas redes sociais nos últimos dias? As reflexões de fim de ano, como sempre, criaram a atmosfera festiva/melancólica/reflexiva da internet. Mas essa trend, apesar do sucesso, rendeu algumas críticas, acusada de “positividade tóxica”.
Quando me deparei com ela pela primeira vez, aceitei o convite de fazer uma retrospectiva mental e passear pelas melhores memórias do ano. Mas, confesso, fiquei logo com uma espécie de ranço porque, para mim, um ano nunca foi tão dicotômico quanto 2024.
Aconteceram coisas INCRÍVEIS, como a oportunidade de escrever para segmentos que me apaixonam, além de textos sensíveis e autênticos nesta newsletter (mesmo ela tendo uma frequência bastante duvidosa).
No lado bailarina clássica da minha vida dupla, realizei sonhos como dançar um solo no palco e fazer parte de uma superprodução do clássico natalino “O Quebra Nozes”. Este último era um sonho de infância, aliás, que não imaginei realizar aos 28 anos.
Mas, apesar de ter sido um dos melhores anos da minha vida em termos de conquistas, do lado de dentro, alguns conflitos e dilemas pessoais me esmagaram. A angústia foi minha companheira constante, sempre trazendo junto sua melhor amiga – a ruminação.
Elas estavam lá nos momentos solitários, nas centenas de noites de insônia. E também nos momentos alegres, com a ameaça de me atormentar mais tarde, quando a euforia desse lugar aos pensamentos sombrios.
Nunca um ano foi tão maravilhoso.
Nunca um ano foi tão difícil.
Acho que as pessoas que aderiram à trend realmente tiveram a intenção de olhar para a vida de uma forma mais otimista, o que considero totalmente legítimo.
Mas não consegui definir se ela se encaixaria por aqui, se faria sentido compartilhar as maravilhas de um ano que, sinceramente, ainda tem um agridoce difícil de engolir.
A menos que eu mudasse as palavras introdutórias.
Originalmente, a frase começa com “Como fui triste em 2024 se eu...”
Mas quando é que a vida é apenas triste ou feliz? A gente tenta racionalizar as emoções como se elas viessem sempre isoladas. Quando, na verdade, o que acontece é uma grande mistura.
Quando você está num churrasco com os amigos, tem lá no fundo aquela ansiedade dos prazos para cumprir no trabalho.
Enquanto está vendo um filme, uma cena te lembra um problema familiar que esquenta o sangue e rouba sua paz.
Uma nova oportunidade de trabalho vem junto com o medo, muitas vezes paralisante, de se arriscar em uma mudança.
Em um exemplo pessoal, quando estou na coxia, segundos antes de entrar no palco, a sensação é tão aterrorizante quanto maravilhosa.
É assim todos os dias. E, às vezes, a dualidade se divide em tons ainda mais opostos, como foi o meu 2024.
Então, a única forma de pegar o conceito da trend de forma que ele faça sentido para mim, seria...
Como fui apenas triste em 2024 se...
Subi no palco pela primeira vez sozinha e dancei uma coreografia pensada para mim, pela minha querida e brilhante professora Cristiana Packer.
Realizei meu sonho de infância de dançar “O Quebra Nozes”, mesmo tendo quebrado o pé 2 meses antes e ter ficado morrendo de medo de não me recuperar a tempo.
Fortaleci laços de amizade que coloriram o ano mesmo nos momentos em que tive certeza de que a angústia iria me dominar.
Comecei a escrever para um cliente do segmento de Psicologia e alcancei meu objetivo de ser paga para escrever sobre saúde mental.
Sem contar os momentos de uma alegria menos esfuziante, mais silenciosa – quando li tomando uma xícara de café, em casa ou nas cafeterias que se tornaram extensão da minha sala.
Ou os passeios matinais com a minha companheira de 4 patas, quando nos entreolhávamos e, sem dizer nenhuma palavra, compartilhávamos a gratidão pelos raios suaves do sol, desse nosso horário favorito, que nos aquece sem queimar.
Todas essas coisas aconteceram enquanto vivi nos extremos. Muitas vezes, no mesmo dia, chorei lágrimas existenciais de manhã e gargalhei por bobagens no fim da tarde.
Aprendi que a dor pode conviver com a gratidão, nos resta aprender a nadar na correnteza volátil das emoções.
E aceitar que, de vez em quando, mesmo fazendo tudo certo, a gente vai se afogar, depender de alguém que faça o papel de salva vidas ou nos carregue até recuperarmos o fôlego.
Sendo assim, 2024, estou ansiosa para me despedir de você. E apesar de ainda não ser capaz de dizer que sentirei saudades, preciso dizer: obrigada.
Não apenas pelas alegrias e conquistas, mas por me ensinar que a vida é complexa demais para se definir apenas pelas emoções agradáveis ou desagradáveis. Que, para viver dentro de mim, preciso aceitar sentir tudo, com sinceridade e uma boa dose de paciência.
As alternativas são a escuridão completa ou uma vida feita de autoengano e recortes instagramáveis.
Não escolho nenhuma das duas. E espero que você que me lê também possa olhar para o seu 2024 com autocompaixão e entrar em 2025 aceitando que, sim, pode ser maravilhoso. Mas não significa que não vá doer.
Obrigada por ler até o final!
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